terça-feira, 23 de março de 2010

COLETA SELETIVA NA ESCOLA


Me assombra a cada vez que ouço alguém dizer: Estou fazendo um projetinho de Coleta Seletiva para a escola, vou colocar as lixeiras coloridas e fazer uma campanha com os alunos! Geralmente eu tento, da maneira mais sutil, alertar que não dá pra ser SÓ um projetinho do ano vigente a ser implantado e fim. Para que a coleta seletiva vingue na escola e se torne um hábito entre os que lá estão e frequentam é necessário um trabalho maior e anterior, que precede até a própria ideia das lixeiras coloridas.


No ano passado, em uma oficina para 42 professores da rede municipal de uma cidade vizinha, cujo tema era EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA ESCOLA aconteceu um fato curioso que ilustra bem o assunto de hoje. Antes de iniciar minhas atividades costumo perguntar o que as pessoas esperam do encontro e nesta ocasião, quando eu perguntei a expectativa de cada um cerca de 95% externaram que estavam lá porque pretendiam implantar um projeto de coleta seletiva na escola.

Porém, quando comecei o trabalho de “descobrir” a inclinação ambientalista e ecológica do grupo pude constatar que NENHUM deles fazia a coleta em casa (e nesta cidade há coleta seletiva porta a porta em todo município). As desculpas para a não adesão a coleta seletiva na própria casa eram as mais variadas como: falta de interesse e de apoio dos familiares, falta de local para acondicionar os diversos materiais, falta de costume e dificuldade em separar e limpar os recicláveis... e por aí foi.

Ora, se em casa havia todo o tipo de empecilho imagine na escola. No caso desses professores, a escola seria como ter a sua casa numa versão maior, com dificuldades multiplicadas pelos metros quadrados e seres humanos que lá convivem. E ainda com a agravante de terem num mesmo ambiente diversos tipos de pessoas com suas culturas, idades, vivências, famílias, hábitos etc.

Sei que isso logo no início foi um balde de água fria, mas no decorrer os ajudou a pensar em conjunto em alguns caminhos a serem seguidos para que apontassem pontos importantes para que o projeto não afundasse antes de ser iniciado. As reflexões foram: como fazer a família reduzir o consumo, como convencê-los a aproveitar mais e melhor o que se adquire e como incentivá-los a separar TODO o resíduo possível para a reciclagem pensando na gestão desse material em casa (limpar, separar, acondicionar, transportar...). Foi uma boa estratégia para se pensar como abordar o mesmo assunto de forma coerente e didática na escola pensando num universo maior: a direção, os funcionários administrativos, professores, pessoal da limpeza, cozinha, cantina, caseiro e, por fim, os alunos.

Aqueles professores que pensaram em sair de lá com uma solução foram embora com uma missão: a de pensar em um pré-projeto que preparasse cada escola para receber esta responsabilidade, criando condições dos grupos refletirem e opinarem, descobrindo maneiras das ações se integrarem ao cotidiano escolar de forma efetiva e prazerosa. Reflexão antes da ação, sempre!

quinta-feira, 11 de março de 2010

CRIANÇA E CONSUMO



Acontece na próxima semana o 3º Fórum Internacional Criança e Consumo na cidade de São Paulo. Esse tema me instiga, me provoca e, muitas vezes, me aborrece.

Me instiga e me provoca porque sou mãe de um menino de 8 anos de idade e percebo que mesmo exposto uma “tsunami” de propagandas em canais de TV a cabo, lojas, shoppings, mercados e “tendências” expostas pelos colegas da escola ele não tem o impulso consumista que a maioria das crianças de sua idade tem. Daí concluo que os pais têm grande responsabilidade no consumismo infantil.

Desde pequeno nós conversamos sobre o ato de consumir, fazemos perguntinhas simples que nos ajudam a definir uma compra: EU PRECISO DISTO? ISTO VALE O PREÇO QUE ESTÃO COBRANDO? COMO E ONDE ISSO FOI FABRICADO? Sempre tentei abarcar os aspectos ambientais, econômicos e sociais de forma didática e simples.

Ontem, no supermercado perguntei: Você quer um ovo de páscoa filho? Ele respondeu: Não, está muito caro. A moça ao lado sorriu constrangida: Nossa, uma criança rejeitar um ovo de páscoa!? Compramos uma barra grande ele foi embora feliz por um terço do preço, com a mesma quantidade da mesma marca de chocolate.

São perguntinhas tão singelas e que geram uma reflexão enorme, ponderação que hoje em dia a maioria dos pais não sabe fazer, o que dirá ensinar. Questionar o consumo, o ter por ter, ou ter porque todo mundo tem, o valor das coisas sob diversos aspectos ajuda a criança a pensar a respeito do que ela realmente necessita para se sentir segura.

E tem mais, a idéia de que ela não precisa “ter” tudo para ser aceita ou se sentir bem a fará entrar em contato com valores e princípios éticos que serão a base de seu comportamento como adulto. Saber argumentar, saber pensar e refletir são atitudes que são aprendidas ao longo da infância e adolescência, não dá para comprar em alguma loja do shopping center mais próximo.

E por fim, me aborrece porque esse ímpeto consumista desvia a criança de um direito que todas elas tem que é o DIREITO DE BRINCAR. As brincadeiras são essenciais para estimular a criatividade e socialização desses pequeninos seres em desenvolvimento. É um dever dos pais e direcionar a energia da criança para brincadeiras criativas, essenciais ao desenvolvimento humano saudável, tanto quanto ensiná-las a consumir com responsabilidade. E a escola pode ser uma grande parceira nesta caminhada!