sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

"o que ocorre hoje (ontem e amanhã), é decorrência de um processo"...

Recebi o email que reproduzo abaixo de um grande amigo, cuja opinião se alinha com a minha e, de certa forma, já foi citada neste blog por mim em outras ocasiões. E reforço: até quando vamos fechar os olhos para o fato de que nossas atitudes influenciam e, muita vezes, causam essas catástrofes?
Impermeabilizar os solos, reduzir as áreas verdes, cobrir as áreas de várzea, construir nas encostas e morros... TODOS sabem os riscos, mas ninguém quer fazer do jeito certo, porque ninguém quer “perder” nada. Mas não pensam nas consequências a longo prazo.
Meu marido é arquiteto e o que ele mais faz é tentar explicar a seus clientes a vantagem pessoal e global em atender as leis de permeabilidade e recuos para ventilação e luminosidade. Tentar convencer sobre o quanto não compensa fazer cortes absurdos nos solos, deixar áreas para permeabilidade da chuva, obedecer regras de descarte da água pluvial, aproveitar o que se pode fazer sem comprometer toda uma área por vaidade e ganância.
Aí entra em cena o egoísmo: "mas o meu vizinho já fez mesmo, porque eu não posso fazer? Não tem problema, não vai prejudicar ninguém, todo mundo faz assim". E nisso constatamos que o problema não é ser pobre ou ser rico, homem ou mulher, instruído ou analfabeto, o problema é "ser humano".

“Caríssimos
As imagens vistas e revistas nos telejornais dão a noção mínima dos resultados das transformações realizadas por nós no ambiente.
O que mais chama a minha atenção, nestes dias, é o conjunto de opiniões e manifestações jornalísticas de que as cidades foram ocupadas de forma desordenada, de que não houve planejamento nem controle sobre o desenvolvimento das áreas urbanas, e assim por diante.
Para tanto, são chamados diversos especialistas para buscar explicações sobre as tragédias humanas, para que se possa entender o porquê das coisas, o porquê de tanta desgraça. Até jornalistas de outras áreas aventuram-se nas análises e nas críticas sobre as limitações do Poder Público para disciplinar e ordenar o crescimento urbano - cito, como ilustração disso, a jornalista Miriam Leitão.
Outros, mais atentos e que acompanham a questão há muito tempo, como os jornalistas Sérgio Abranches e Washington Novaes, sabem que o que ocorre hoje (ontem e amanhã), é decorrência de um processo (com várias etapas sucessivas).
Mas, apesar das tragédias - considerando que a perda de vidas é o que mais se deve lastimar -, uma coisa continua a me animar e estimular na busca por uma sociedade melhor: o que era dito há 10, 15, 20 anos, agora muitos estão falando e outros mais estão ouvindo e compreendendo. Muitos, dentro e fora do Poder Público (eu incluído), sempre buscaram alertar sobre as possíveis (e hoje, infelizmente, realidade) consequências deste processo perverso de construção do espaço urbano, sem que houvesse o respeito às condições e aos critérios básicos/essenciais de estruturação física e natural do ambiente, incluído aí sua dinâmica.
Não foi à toa que sempre se buscou garantir, nos projetos construtivos e na legislação urbanística, a garantia de índices de permeabilidade, de estudos da capacidade de suporte e das características do ambiente, a manutenção percentual de áreas verdes, ressaltando a importância e as funções exercidas pelas árvores, pelos cursos d'água, etc.
Nós também aprendemos muito em todo este processo, pois, por muito tempo, buscamos garantir o equilíbrio ecológico. Hoje, sabemos que o principal é garantir a resilência (capacidade de um determinado sistema de absorver os impactos e recuperar-se) do ambiente, de forma a que, aí sim, possamos cumprir com o objetivo principal do dispositivo constitucional no tema ambiental - garantir a qualidade ambiental para a presente e as futuras gerações.

Aprendemos na dor - dizem alguns. Mas esta não é, necessariamente, a única forma de aprendizado...
Abraços
Carlos Henrique A. Oliveira
Arquiteto Urbanista”

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