terça-feira, 17 de maio de 2011

PREFIRO SER UMA METAMORFOSE AMBULANTE - republicado

Bem, sei que geralmente eu abordo assuntos mais técnicos, mais específicos, mas... o que vou falar hoje não deixa de ser um assunto relacionado a Educação Ambiental porque vou falar de educação também.

Há alguns meses fui convidada por um antigo e querido amigo que acabara de ser nomeado diretor de uma escola estadual enorme (21 salas por período) para dar “uma força” como professora eventual de aulas de artes. Encarei o desafio de dar algumas aulas, meio período, seria uma boa experiência para me decidir sobre o mestrado...

Após as férias, houve o retorno, as aulas pós-gripe H1N1, professoras grávidas que não poderiam entrar em sala, e uma dessas professoras era de Artes. As 13 turmas de 6ª e 7ª séries dela caíram em meu colo. GENTE DO CÉU, como não dizer não? E lá fui eu...

Neste curto período pude entender o que é encarar uma sala de aula com cerca de 40 alunos totalmente sem limites, sem noções claras sobre respeito, higiene, educação, sociedade, ética, mundo; crianças da periferia, com pouca ou nenhuma expectativa na vida, com pais muito ocupados em manter a sobrevivência da família, ou ocupados demais para prestar atenção na família, ou ocupados em viver suas vidas alheios a vida dos filhos, e alguns poucos muito dedicados e preocupados com suas crianças.

Isso me fez compreender (mas não aceitar) professores que desistem de tentar ensinar e que, prostrados com o dia a dia em sala de aula em vários períodos, acabam apenas cumprindo os protocolos, levando e empurrando, ensinando somente a quem quer aprender. Fora todo o resto, que envolve desde um salário não muito motivador até a convivência com demais funcionários e professores e coordenadores estressados e sobrecarregados também...

Mesmo sabendo ser uma situação provisória eu me dedico a ensinar arte como eu gostaria que o professor do meu filho, que estuda em uma boa escola particular, ensinasse a ele. Me desdobro, me esforço, me irrito, me recomponho, me envolvo, me desespero, me refaço e volto para causa exaurida. Mas quando começo a ver os frutos disso após esses meses, com a maioria das crianças entendendo arte, pensando, pesquisando, criando e trabalhando coletivamente penso: foi a melhor coisa que poderia me acontecer!!!

Tem sido uma experiência transformadora sob diversos aspectos. Viver essa realidade está me fazendo rever e repensar muita coisa inclusive a respeito da educação ambiental, responsabilidade socioambiental, mobilização social e sustentabilidade. Tudo aquilo que é linnnnndo no papel, na novela e na propaganda de banco e sabão em pó, é tão difíííííííícil na vida real... e reclamar que tudo está péssimo na educação é tão mais fácil...

Doar um pouco de si sem esperar recompensas ou condecorações não mata ninguém. Estou mais viva e com absoluta certeza eu tenho aprendido muito mais do que tenho ensinado. Sair da zona de conforto, de discussões filosóficas e acadêmicas e partir para o TRABALHO de fato, na mudança de algo que se sonha é sofrido, cansativo, mas me trouxe uma coisa que curso nenhum pôde me dar, a certeza de que essa frase se aplica:

“Nunca duvide que um pequeno grupo de cidadãos preocupados e comprometidos possa mudar o mundo; de fato, é só isso que o tem mudado”. Margaret Mead, antropóloga

E como muito bem cantou o sábio Raul Seixas “ eu prefiro ser uma metamorfose ambulante do que ter aquela opinião formada sobre tudo”. Aproveito para agradecer aos amigos de caminhada e a meu marido, que me incentivaram sempre e não me deixaram desistir dessa “metamorfose”. OBRIGADA!
Publicado originalmente em quarta-feira, 23 de setembro de 2009.

2 comentários:

Cristiane Iannacconi disse...

Adorei, Hegli.
Vi vc no grupo Futuro do Presente e vim aqui conhecer.
gostei muito!
Beijão,
Cris
ps: bem vinda ao grupo!

Hegli disse...

Poxa Cris, obrigada!
Continue visitando o blog!
Bjus