quarta-feira, 23 de setembro de 2009

PREFIRO SER UMA METAMORFOSE AMBULANTE



Bem, sei que geralmente eu abordo assuntos mais técnicos, mais específicos, mas... o que vou falar hoje não deixa de ser um assunto relacionado a Educação Ambiental porque vou falar de educação também.
Há alguns meses fui convidada por um antigo e querido amigo que acabara de ser nomeado diretor de uma escola estadual enorme (21 salas por período) para dar “uma força” como professora eventual de aulas de artes. Encarei o desafio de dar algumas aulas, meio período, seria uma boa experiência para me decidir sobre o mestrado...
Após as férias, houve o retorno, as aulas pós-gripe H1N1, professoras grávidas que não poderiam entrar em sala, e uma dessas professoras era de Artes. As 13 turmas de 6ª e 7ª séries dela caíram em meu colo. GENTE DO CÉU, como não dizer não? E lá fui eu...
Neste curto período pude entender o que é encarar uma sala de aula com cerca de 40 alunos totalmente sem limites, sem noções claras sobre respeito, higiene, educação, sociedade, ética, mundo; crianças da periferia, com pouca ou nenhuma expectativa na vida, com pais muito ocupados em manter a sobrevivência da família, ou ocupados demais para prestar atenção na família, ou ocupados em viver suas vidas alheios a vida dos filhos, e alguns poucos muito dedicados e preocupados com suas crianças.
Isso me fez compreender (mas não aceitar) professores que desistem de tentar ensinar e que, prostrados com o dia a dia em sala de aula em vários períodos, acabam apenas cumprindo os protocolos, levando e empurrando, ensinando somente a quem quer aprender. Fora todo o resto, que envolve desde um salário não muito motivador até a convivência com demais funcionários e professores e coordenadores estressados e sobrecarregados também...
Mesmo sabendo ser uma situação provisória eu me dedico a ensinar arte como eu gostaria que o professor do meu filho, que estuda em uma boa escola particular, ensinasse a ele. Me desdobro, me esforço, me irrito, me recomponho, me envolvo, me desespero, me refaço e volto para causa exaurida. Mas quando começo a ver os frutos disso após esses meses, com a maioria das crianças entendendo arte, pensando, pesquisando, criando e trabalhando coletivamente penso: foi a melhor coisa que poderia me acontecer!!!
Tem sido uma experiência transformadora sob diversos aspectos. Viver essa realidade está me fazendo rever e repensar muita coisa inclusive a respeito da educação ambiental, responsabilidade socioambiental, mobilização social e sustentabilidade. Tudo aquilo que é linnnnndo no papel, na novela e na propaganda de banco e sabão em pó, é tão difíííííííícil na vida real... e reclamar que tudo está péssimo na educação é tão mais fácil...
Doar um pouco de si sem esperar recompensas ou condecorações não mata ninguém. Estou mais viva e com absoluta certeza eu tenho aprendido muito mais do que tenho ensinado. Sair da zona de conforto, de discussões filosóficas e acadêmicas e partir para o TRABALHO de fato, na mudança de algo que se sonha é sofrido, cansativo, mas me trouxe uma coisa que curso nenhum pôde me dar, a certeza de que a frase que está fixada neste blog e que eu tanto acredito se aplica.

“Nunca duvide que um pequeno grupo de cidadãos preocupados e comprometidos possa mudar o mundo; de fato, é só isso que o tem mudado”. Margaret Mead, antropóloga

E como muito bem cantou o sábio Raul Seixas “ eu prefiro ser uma metamorfose ambulante do que ter aquela opinião formada sobre tudo”. Aproveito para agradecer aos amigos de caminhada e a meu marido, que me incentivaram sempre e não me deixaram desistir dessa “metamorfose”. OBRIGADA!

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

USO RACIONAL DE ÁGUA NAS ESCOLAS



Uma experiência que vale a pena ser contada (de forma resumida, claro!). Em 2007 participei de um projeto chamado USO RACIONAL DE ÁGUA NAS ESCOLAS, em escolas municipais de uma cidade do Grande ABC. A Coordenadoria de Comunicação Social da autarquia responsável pelo saneamento no município em que eu trabalhava elaborou um pré-projeto propondo uma parceria com a Secretaria de Educação do município visando desenvolver nas escolas um trabalho que integrasse tanto ações TÉCNICAS/OPERACIONAIS (conserto de vazamentos, regulagem e troca de equipamentos, entre outras) quanto ações de MOBILIZAÇÃO SOCIAL (capacitação de gestores, professores e funcionários; envolvimento dos estudantes etc).
Os objetivos eram:
* Reduzir o volume de água gasto nas escolas municipais e Centro de Educação e incentivar a manutenção preventiva;
* Despertar ou ampliar a consciência da comunidade escolar (alunos, professores e funcionários) sobre a importância do uso criterioso da água desvinculando o uso racional a economia em dinheiro, com foco em economia do recurso natural insubstituível e indispensável para a vida: a água potável.

Metodologia: Por meio de um Grupo de Trabalho (GT) formado por profissionais de varias áreas, e a partir da realização de reuniões de Planejamento, foram elencadas ações, responsáveis, prazos e metas. Neste processo foram consideradas as especificidades de cada unidade escolar, o conhecimento e os trabalhos já desenvolvidos por alunos, professores, funcionários e gestores. Em outras palavras, respeitou-se o conhecimento anterior e as práticas já desenvolvidas pelo grupo e por cada unidade.
Foram propostas ações gerais para todas as 90 unidades escolares e ações específicas para um grupo menor de unidades escolhidas para um trabalho de acompanhamento mais sistemático do GT. Foram escolhidas 06 escolas que foram indicadas pela Secretaria de Educação, considerando a distribuição geográfica na cidade, de modo a contemplar o maior número de regiões do município; e a variedade de equipamentos.
O primeiro passo foi realizar vistorias técnicas. Partindo dos relatórios das vistorias foram propostas ações de ordem técnicas/estruturais e operacionais – agilização na detecção e conserto de vazamentos, regulagem de equipamentos hidráulicos, troca ou supressão de equipamentos obsoletos, monitoramento da conta pela escola, entre outros. E ações de mobilização social: formação para funcionários e professores sobre temas ambientais (água, Agenda 21 e outros); incentivo para inserção do tema água nos PPP (Projetos Político Pedagógicos), entre outras ações. Todas essas ações foram precedidas de uma pesquisa de campo, quantitativa e direcionada para cada público envolvido: alunos, professores e demais funcionários.

Resultados Quantitativos: Registramos tendência de queda no consumo de todas as 6 escolas monitoradas no primeiro ano do Programa. Na mais expressiva, a queda foi de 60%. A equipe técnica responsável pelo projeto também conseguiu, com base em relatórios técnicos consistentes, sensibilizar a Secretaria de Educação a promover a retirada de equipamentos obsoletos, responsáveis por grande desperdício de água, como os mictórios de fluxo contínuo, e reduzir a vazão das torneiras e válvulas de descarga de todas as unidades da rede escolar.

Resultados Qualitativos: Ao final de 18 meses, foi aplicado um formulário de avaliação do projeto em todas as unidades participantes onde era questionado se havia sido observada mudança de comportamento da maioria das pessoas em relação à utilização racional da água (o questionário não solicitava identificação).
A resposta foi de que a mudança de comportamento foi percebida em todas as unidades como a maior preocupação com a manutenção dos equipamentos por parte da equipe de funcionários, a integração do tema de maneira direcionada ao Projeto Político Pedagógico de cada unidade, utilização da oficina do futuro e agenda 21 escolar nas reuniões de pais e também com os alunos e funcionários, motivação das professoras em trabalhar o tema de maneira interdisciplinar, maior consciência das crianças em relação ao uso criterioso da água, maior cuidado com os equipamentos hidráulicos entre outros.
Uma das questões solicitava que fossem colocados aspectos positivos e negativos do projeto na unidade educacional e na sua maioria, apontaram que não havia aspectos negativos ou que o único aspecto negativo foi o de o projeto não chegar antes a sua escola. 100% das unidades decidiram continuar no projeto no ano de 2008.

Conclusão: O Programa foi bem-sucedido e teve continuidade depois da saída da equipe de apoio. Isso se deve à metodologia adotada, que combina, de um lado, tanto ações técnicas/operacionais quanto ações de mobilização social, e, de outro lado, planejamento sistemático com acompanhamento rigoroso das ações, prazos e metas. O primeiro recurso metodológico permite que se crie um círculo virtuoso, no qual melhorias na estrutura predial da escola motivem o uso criterioso da água, evitando uma situação muito comum em programas como esse que é expresso no seguinte comentário: "o que adianta eu economizar, fazer minha parte, se a escola não cuida dos equipamentos, se há vazamento e desperdício por todo o lado?". Já o segundo recurso metodológico tem sua importância, sobretudo na valorização da equipe profissional envolvida no programa. É importante que ela sinta que participa de reuniões produtivas, que existe planejamento, organização, informação, formação, cobrança e sinta-se responsável pelos resultados obtidos e pela continuação das ações, para que não sejam pontuais, mas incorporadas ao dia-a-dia na rotina escolar.
Essa experiência me fez acreditar que no que digo, nunca duvidar que um pequeno grupo de cidadãos preocupados e comprometidos possa mudar o mundo... mesmo que seja aos poucos.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL

Na semana passada eu participei da Mostra Fiesp/Ciesp de Responsabilidade Socioambiental, uma mostra do que as empresas andam fazendo em relação ao meio em que estão e ao resto do mundo com suas práticas. Como todos os eventos promovidos por eles, sobra organização. É, sem dúvida, um dos poucos lugares que dá pra ir sem medo, pois do porteiro aos organizadores, o compromisso em seguirem o roteiro faz da simpatia e da pontualidade uma marca registrada. Sem falar nos estandes e apresentações culturais.
E então começaram as surpresas...

Em várias apresentações que se seguiram após a cerimônia de abertura, percebi que muitas das empresas cujos “cases” foram selecionados para mostrarem suas iniciativas nesta área, não tinham o menor entendimento do que seja, de fato, a tal da RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL.

O Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) entende que a responsabilidade socioambiental: "é uma postura ética permanente das empresas no mercado de consumo e na sociedade. Muito mais que ações sociais e filantropia, a responsabilidade social, no nosso entendimento, deve ser o pressuposto e a base da atividade empresarial e do consumo. Engloba a preocupação e o compromisso com os impactos causados a consumidores, meio ambiente e trabalhadores; os valores professados na ação prática cotidiana no mercado de consumo - refletida na publicidade e nos produtos e serviços oferecidos; a postura da empresa em busca de soluções para eventuais problemas; e, ainda, a transparência nas relações com os envolvidos nas suas atividades" (Guia de Responsabilidade Social para o Consumidor, 2004, p. 4), e eu concordo.

Particularmente, foi um choque ver empresas, muitas delas multinacionais, apresentarem em suas relações de atitudes socioambientais coisas como: convênio médico, cesta básica, reforço escolar e ensino básico aos funcionários. Entendo isso como um pressuposto, diante do porte das empresas, como um direito do trabalhador e não como diferencial para ser relacionada como prática de responsabilidade. Em uma das apresentações uma empresa (Sueca) ainda teve a coragem de citar que faz as atividades de educação ambiental com incentivo
da Lei Rouanet, JESUS ME ABANE. Meus alunos na periferia precisando tanto de cultura, teatro, educação ambiental e o dinheiro público embelezando, com exposições e uma decoração futurista e temática, uma casinha “educativa” de uma empresa rica e estrangeira... eu fiquei chocada. E muito mau-humorada.

Sorte que havia mais que isso. Vi empresas engajadas e uma bela apresentação do Sesi que realmente FAZ a lição de casa. Apresentou o que as demais empresas deveriam ter como premissa, primeiro fazer o seu colaborador entender o que é e para o que serve essa “responsabilidade” e assim expandir não só o conceito, ou os relatórios e listas, mas a prática sustentabilidade e da inclusão, e deste modo, uma vida melhor para todas as pessoas.

A parte boa é que essas apresentações rederam bons debates, questionamentos, encaminhamentos... E eu acredito que em eventos como este podemos aprender muito para fazer valer o dever de cada empresa em adotar uma postura ética que seja permanente, fazendo muito mais que ações sociais e de filantropia ou praticando o ecologismo infundado.
No final, passado o mau humor e a indignação, o saldo que ficou foi positivo!!! Bem positivo!