segunda-feira, 14 de setembro de 2009

USO RACIONAL DE ÁGUA NAS ESCOLAS



Uma experiência que vale a pena ser contada (de forma resumida, claro!). Em 2007 participei de um projeto chamado USO RACIONAL DE ÁGUA NAS ESCOLAS, em escolas municipais de uma cidade do Grande ABC. A Coordenadoria de Comunicação Social da autarquia responsável pelo saneamento no município em que eu trabalhava elaborou um pré-projeto propondo uma parceria com a Secretaria de Educação do município visando desenvolver nas escolas um trabalho que integrasse tanto ações TÉCNICAS/OPERACIONAIS (conserto de vazamentos, regulagem e troca de equipamentos, entre outras) quanto ações de MOBILIZAÇÃO SOCIAL (capacitação de gestores, professores e funcionários; envolvimento dos estudantes etc).
Os objetivos eram:
* Reduzir o volume de água gasto nas escolas municipais e Centro de Educação e incentivar a manutenção preventiva;
* Despertar ou ampliar a consciência da comunidade escolar (alunos, professores e funcionários) sobre a importância do uso criterioso da água desvinculando o uso racional a economia em dinheiro, com foco em economia do recurso natural insubstituível e indispensável para a vida: a água potável.

Metodologia: Por meio de um Grupo de Trabalho (GT) formado por profissionais de varias áreas, e a partir da realização de reuniões de Planejamento, foram elencadas ações, responsáveis, prazos e metas. Neste processo foram consideradas as especificidades de cada unidade escolar, o conhecimento e os trabalhos já desenvolvidos por alunos, professores, funcionários e gestores. Em outras palavras, respeitou-se o conhecimento anterior e as práticas já desenvolvidas pelo grupo e por cada unidade.
Foram propostas ações gerais para todas as 90 unidades escolares e ações específicas para um grupo menor de unidades escolhidas para um trabalho de acompanhamento mais sistemático do GT. Foram escolhidas 06 escolas que foram indicadas pela Secretaria de Educação, considerando a distribuição geográfica na cidade, de modo a contemplar o maior número de regiões do município; e a variedade de equipamentos.
O primeiro passo foi realizar vistorias técnicas. Partindo dos relatórios das vistorias foram propostas ações de ordem técnicas/estruturais e operacionais – agilização na detecção e conserto de vazamentos, regulagem de equipamentos hidráulicos, troca ou supressão de equipamentos obsoletos, monitoramento da conta pela escola, entre outros. E ações de mobilização social: formação para funcionários e professores sobre temas ambientais (água, Agenda 21 e outros); incentivo para inserção do tema água nos PPP (Projetos Político Pedagógicos), entre outras ações. Todas essas ações foram precedidas de uma pesquisa de campo, quantitativa e direcionada para cada público envolvido: alunos, professores e demais funcionários.

Resultados Quantitativos: Registramos tendência de queda no consumo de todas as 6 escolas monitoradas no primeiro ano do Programa. Na mais expressiva, a queda foi de 60%. A equipe técnica responsável pelo projeto também conseguiu, com base em relatórios técnicos consistentes, sensibilizar a Secretaria de Educação a promover a retirada de equipamentos obsoletos, responsáveis por grande desperdício de água, como os mictórios de fluxo contínuo, e reduzir a vazão das torneiras e válvulas de descarga de todas as unidades da rede escolar.

Resultados Qualitativos: Ao final de 18 meses, foi aplicado um formulário de avaliação do projeto em todas as unidades participantes onde era questionado se havia sido observada mudança de comportamento da maioria das pessoas em relação à utilização racional da água (o questionário não solicitava identificação).
A resposta foi de que a mudança de comportamento foi percebida em todas as unidades como a maior preocupação com a manutenção dos equipamentos por parte da equipe de funcionários, a integração do tema de maneira direcionada ao Projeto Político Pedagógico de cada unidade, utilização da oficina do futuro e agenda 21 escolar nas reuniões de pais e também com os alunos e funcionários, motivação das professoras em trabalhar o tema de maneira interdisciplinar, maior consciência das crianças em relação ao uso criterioso da água, maior cuidado com os equipamentos hidráulicos entre outros.
Uma das questões solicitava que fossem colocados aspectos positivos e negativos do projeto na unidade educacional e na sua maioria, apontaram que não havia aspectos negativos ou que o único aspecto negativo foi o de o projeto não chegar antes a sua escola. 100% das unidades decidiram continuar no projeto no ano de 2008.

Conclusão: O Programa foi bem-sucedido e teve continuidade depois da saída da equipe de apoio. Isso se deve à metodologia adotada, que combina, de um lado, tanto ações técnicas/operacionais quanto ações de mobilização social, e, de outro lado, planejamento sistemático com acompanhamento rigoroso das ações, prazos e metas. O primeiro recurso metodológico permite que se crie um círculo virtuoso, no qual melhorias na estrutura predial da escola motivem o uso criterioso da água, evitando uma situação muito comum em programas como esse que é expresso no seguinte comentário: "o que adianta eu economizar, fazer minha parte, se a escola não cuida dos equipamentos, se há vazamento e desperdício por todo o lado?". Já o segundo recurso metodológico tem sua importância, sobretudo na valorização da equipe profissional envolvida no programa. É importante que ela sinta que participa de reuniões produtivas, que existe planejamento, organização, informação, formação, cobrança e sinta-se responsável pelos resultados obtidos e pela continuação das ações, para que não sejam pontuais, mas incorporadas ao dia-a-dia na rotina escolar.
Essa experiência me fez acreditar que no que digo, nunca duvidar que um pequeno grupo de cidadãos preocupados e comprometidos possa mudar o mundo... mesmo que seja aos poucos.

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